sábado, 30 de junho de 2012

opção

Quem quer fazer alguma coisa, encontra um meio; quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa. (Roberto Shinyashiki)

contramão

cachos de mel, ele me disse
e teu diabetes, perguntei

sexta-feira, 22 de junho de 2012

por ti


POR TI
Fui do Pontal ao Leme
E quando te encontrei
Eu me perdi

quinta-feira, 21 de junho de 2012

memória - coisa mais chata


Ele só falava das “bodas de diamante”, no próximo julho. Ela, a mais esquecidinha dos dois, vez por outra resmungava: “Bodas coisa nenhuma!”  Nós já nos empolgávamos,  embarcando na viagem dele, já pensando na lista de convidados, preparando outra festa de arromba. Até que, do nada, o desmancha-prazeres:
- Agora lembrei, isso foi no ano passado, a festa e tudo.
Ah, paizinho, francamente... que coisa mais sem graça!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

lena

LENA

Mais uma vez ela se levantava  de uma cama estranha.
A vida que conhecia era de braço a_braço, de boca em boca.
 O nome era de santa – ou quase.
Louca, louca, louca! Desvairada, jogava-se em águas sombrias,
dançava. O tornozelo e o quadril hipnotizavam.  
E lá se ia – e  sempre dela menos voltava:
sobrava um travo, um gosto de pecado, um resto de nada.
Até que Mada se  forMaria.

poema de gratidão


A lua prateada que tu me deste
foi entrando devagar pela janela -
receio de assustar, pejo de invadir.
Suave, mansa, espiou cada canto
e em cada canto deixou seu rastro.

Viu-me reclinada,
as mãos soltas, abandonadas,
os olhos vazios como que esperando
por tudo ou por quase  nada.
E  foi-se dando em sopros.

Enfim iluminou o quarto todo, até a escura almofada
onde eu me encontrava.
Tocou o corpo seco, o peito rígido,
os lábios ásperos.
E tudo se fez brilho por obra dessa lua.

Todavia, um olhar zeloso e amável
para  além de mim, além da lua
veria os teus dedos, o teu carinho -
toda generosidade tua.

terça-feira, 19 de junho de 2012

transcendência

Contar pegadas – que tédio!
Vou é colecionar estrelas,
cintilar como uma delas.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

alento


A avó e seu netinho não estavam de mãos dadas. A criança segurava a ponta de um galho e a mulher  segurava a outra ponta. Tomavam conta de toda a largura da calçada. Distraída, quase perco a poesia; mas o olho  do menino me atraiu. Era tanta confiança que me comovi. E no olhar da avó, ternura e paz. Voltei para casa com a maravilhosa certeza de que o mundo, afinal, tem salvação.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

solo

Turbinas. Nuvens. Espaço.
Montanhas vistas de cima.
Re_pouso nos teus braços.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

doideira




Sentir

 a barriga doer é bom.

De rir.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

HOMEM LOBO DO HOMEM



Detesto ir ao supermercado. Mas, como  é um mal necessário, montei   uma estratégia. Vou a pé pelas  ruas arborizadas do bairro onde moro. E me entrego visceralmente à poesia. Vou escrevendo poemas aqui, na minha cabeça.  Dia desses,  escrevi sobre os óculos. Pois nesse  mesmo dia, desagradável surpresa. Quando cheguei,  confirmou-se  minha ideia  de que às vezes é melhor não ver.  Assisti a uma cena das mais tristes. É muito ruim ver o ser humano se esquecendo  de sua condição.

 Supermercado lotado, filas enormes para tudo, pessoas estressadas evidentemente. Assim como eu , imagino que todos, civilizados, recitando o mantra paciência... paciência... paciência.

De repente, dois casais desistem da civilidade, agridem-se,  xingam-se  por palavrões.  Uma das mulheres  faz uma cena horrível,  prevalecendo-se da prerrogativa do gênero, e também de estar com um filho pequeno (pensasse nisso antes de fazer o escândalo – ou  o filho).  Um dos  homens, ofendido na sua condição de macho  grita: “ Seu marido foi grosseiro com minha mulher, está pensando que ela está sozinha?”  ( quer dizer ....)

Não sei o que me deixou mais chocada.  A fúria dessas quatro pessoas,  o povo que juntou,  o tempo que demorou para aparecer algum segurança,  a reação do público (sim, era um show!), metade vaiando, outra metade rindo. A atitude dos quatro protagonistas, jogando-se uns contra os outros, só não se bateram porque os tais seguranças, enfim, apareceram. A agressividade latente nas pessoas que gritavam: “Ele está certo, ela mandou ele tomar naquele lugar!”  Ou: “Ele é um covarde, não se bate em mulher!”  A necessidade da catarse.  A sensação de desamparo que eu  senti, não por estar sozinha,mas pela desconfortável suspeita de que Hobbes tem razão.

 - Mãe, se eu quebrar meus óculos, as pessoas ficarão mais humanas?

domingo, 3 de junho de 2012

janela

Cá,  ansiedade.
Lá... quem sabe?
Uma palavra fechou a cortina. Pena!

RETRATO


Recebeu-me sem perguntas

- respostas não desnudam -

quis  o prazer de descobrir.



Então... encontrou o   meu melhor perfil.

Não o mais gentil  nem o   mais bonito,

mas o que melhor me traduziu.



E me amou assim; assim, eu o amei.



Hoje, aqui, gratidão – e uma saudade sem fim.

sábado, 2 de junho de 2012

posse



POSSE

Enquanto a boca sugere, macia e meiga,

os cabelos  enredam,

os olhos  subjugam.

Por fim,

 o monstro que mora em mim te liberta.

 Mas não exatamente a ti: aquele

que só eu conheci, fora de mim

é  sombra, é pó, é nada.