domingo, 28 de abril de 2013

domingo


são tantos pontos perfeitos
céus, rios, encontros
provocações, risos frouxos
tudo cabe no meu peito

quarta-feira, 17 de abril de 2013

trívioletra: mudança


M uda da muda se_mente // vê no horizonte // frondosa árvore (4)
U nha encravada // incomoda. Correndo // vai-se mais longe (5)
D e meu, só o suspiro // sigo adiante // caminho e caminhante (3)
A perto mudo. // A dor aguda anda certo // - com pé torto (6)
N a estrada, malas, caminhão e cusco// tudo muda// que cheguem bem! (2)
Ç oisa estranha // desconforto // peso morto (1)
A gora é brisa. // Sorriso (frouxo) // de Mona Lisa. (7)

B risa do mundo // pé de jequitibá // - perdizes e raízes. (8)
A água brilha na roda // respinga-se-molda // ou transborda (9)

Eliana Da Pieve (TE), 1, 3, 5, 7, 9
Marco Bastos 2, 4, 6, 8

sexta-feira, 12 de abril de 2013

o-kit-conquista

mel nos olhos
saboroso
céu da boca

...

o beijo que não te dei
tem gosto de céu
efeito estrelas
o beijo que te darei

miragem

teus beijos
arpejos
em mi sustenido

lou_cura

invento caso
e o verso doido
submerge no ar

sábado, 6 de abril de 2013

miscelânea


Incrível, mas não falha: toda vez que tenho um serviço chato pra fazer, mas daqueles bem cabeludos, fico grávida de ideias. São versos, frases, textos inteiros que me acometem. Agora, mesmo, estou com uma mudança pra providenciar, mas um poeminha me cutuca a cabeça desde manhã. Também tem duas cenas que presenciei há pouco, que não posso deixar escapar. O jeito é empurrar a tarefa azeda pra mais tarde, sentar-me diante desta tela azul e malhar os dedinhos.

História 1:
Supermercado lotadaço, como convém a um sábado de manhã. Mas, como não sou mulher muito grande, sou ágil e costumo fazer poucas compras, levo vantagem. Escolho um carrinho dos pequenos e saio driblando o povo, tudo com muito jeito, com licença, por favor... e logo estou com tudo resolvido. Passo seguinte: a fila. Aí não tem jeito, é preciso paciência. Eu me preparo psicologicamente e encaro numa boa. Mas hoje foi difícil. Na minha frente, uma moça de vinte e poucos anos. Com uma filha que não tinha mais de seis aninhos. Muito falantes, as duas. Cada uma consigo mesma, claro, que diálogo ali seria pedir demais.
Até que a menina gritou para a mãe: Mamãe, eu quero salgadinho. Precisou gritar três vezes, até a mãe atendê-la: Pois vá, vá, menina, que não vai me deixar em paz mesmo! Ô menina essa, meu Deus!
E lá se foi a criança sob meu olhar aflito, rabo de cavalo rebolante, para o meio do povo. E nunca mais voltou. Eu já estava cogitando a possibilidade de abandonar a fila e sair atrás da pequena. A mãe, nem tchuns. Até que ficou pronta. Então lembrou-se da filha e começou a gritar histericamente: Quéli! (ou Kely, não sei). Ô meninha, onde tu te meteu, sua maluca! Eu não disse que tenho pressa? Ô menina essa pra sê lesa, meu pai!
O desfecho da história não sei.  A mulher saiu com o carrinho de compras, quero crer que para procurar a filhinha. Eu fiquei no caixa, ocupada com minhas compras. Ocorreu-me: tanta mulher por aí transbordando amor  materno que não consegue ser mãe...

História 2:
Chegando em casa, ao  retirar as compras do carro, atrapalho-me com duas jovens senhoras que passeiam pela calçada em frente ao prédio. As duas muito bonitas, amáveis, perfumadas. Uma delas com um cachorrinho no colo, melosinha, fala com ele: Ah, bebê, fique quietinho, mamãe não quer que suje os pezinhos na lama. A amiga sorri e, debruçando-se sobre o carrinho que empurra, pergunta: Minha fofucha quer fazer pipi? Eu, cheia de sacolas nas mãos, enquanto espero que as duas me deem espaço, já ensaio aquele sorrisinho protocolar de quem olha pra uma criança. Até que o bebê responde. Com um latido.
Aí que não sei... Claro, nada contra os pets, as pet shops, os pet-pais, pet-vovós, e a todo carinho que se dedique aos animaizinhos de estimação e a todos os animais do universo (ufff!, acho que me expliquei bem). Nada disso, por favor. Mas não posso deixar de cruzar (sem duplo sentido!) as duas histórias. E há  coisas que me causam certa estranheza, não consigo evitar. Eu espero que Deus (aquele a quem a mãe da menina invocou) ou seja lá quem for que esteja mexendo os pauzinhos (como diz meu pai), espero que  saiba o que está fazendo.


O Poema:
Todo meio-dia ele surgia na esquina
e vinha e vinha -  devagar como convinha -,
sandálias riscando a calçada.
Na boca, um gostinho de cocada branca.
Os olhos cheios de malícia doce
transbordavam carinho, prometiam carícias.
Chegava se achegando,
chegava murmurando para a moça da janela:
Você é minha, assim toda bem feitinha.
E mesmo que não fosse, porque não quisesse,
nada mais era preciso além de abrir os braços,
espaço exato pro aconchego dela.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

conexões...


Em minha última viagem, conheci a Gruta do Lago Azul, em Bonito, MS. A gruta é linda, o lago mais lindo ainda (adoro essa rima de Luiz Tatit, sempre a roubo). O lago tem 90  metros de profundidade. O azul é tão azul que não sei explicar. E misterioso, quase hipnótico.
No entanto, quando vislumbrei o lago, minha primeira impressão não foi de êxtase .  Pelo contrário. Lembrei-me do meu avô, de quem sempre tive medo. Quando eu era criança, ele  olhava no fundo dos meus olhos e dizia com voz cavernosa: “Teus pais não sabem, mas eu sei! Eu sei tudo o que se passa aí dentro. As águas paradas são profundas!”
Eu ficava assustada, tentando descobrir qual o horrível pecado cometido, que ele sabia e ninguém mais – nem eu.
...pois morreu sem me contar.